Butão: da Idade Média para o século 21 sem perder o equilíbrio?
"Quando o rei Jigme Singye Wangchuck ascendeu ao trono, em 1972, o Butão estava entre os países com os mais altos índices de pobreza, analfabetismo e mortalidade infantil - um legado da política de isolamento. "Pagamos um preço alto", diria mais tarde o rei. Seu pai, o terceiro rei do Butão, começara a abrir o país na década de 60, construindo estradas, escolas e clínicas, empenhando-se na admissão do Butão nas Nações Unidas. O rei Wangchuck iria muito além. Com a autoconfiança de um governante cujo país nunca fora conquistado, ele tentou ditar as condições para a abertura do Butão e, no processo, redefinir o próprio significado de desenvolvimento.
E cunhou uma expressão para descrever seu objectivo: Felicidade Nacional Bruta.
Para muitos butaneses, esta idéia não é uma mera ferramenta de marketing ou utopia filosófica.É uma diretriz de sobrevivência.
Guiado pelos "quatro pilares da Felicidade Nacional Bruta" - desenvolvimento sustentável, protecção do meio ambiente, preservação da cultura e bom governo -, o Butão arrancou-se da pobreza esmagadora sem explorar seus recursos naturais (com excepção da energia hidroeléctrica, vendida à Índia como principal fonte de receitas externas). Quase três quartos do país ainda são cobertos por florestas, com mais de 25% delas - uma das mais altas porcentagens do mundo - demarcadas como parques nacionais e outras áreas protegidas.
Os índices de analfabetismo e mortalidade infantil diminuiram, e a economia vai de vento em popa. Também o turismo cresce, embora rigorosos limites à construção e uma taxa diária de até 240 dólares cobrada a cada visitante afugentam a onda de mochileiros que invadiu o Nepal.
Às vésperas do novo milênio, em 1999, o Butão deu aos seus cidadãos o acesso à televisão. Foi o último país do planeta a fazê-lo. A internet entrou timidamente nesse mesmo ano. Uma euforia tomou conta das cidades butanesas quando o mundo exterior em toda a sua espalhafatosa glória surgiu em lojas e salas de estar.
Mas destapar a caixa de Pandora gerou preocupação. Afinal, o que acontece quando uma sociedade isolada e conservadora é subitamente exposta ao rapper 50 Cent e à Federação Mundial de Luta Livre? Tais questões têm peso extra quando se trata de uma nação vulnerável de 635 mil habitantes, metade deles com menos de 22 anos.
E, então, chegou a hora do ousado ponto alto do experimentação modernizante do Butão: mudar para a democracia. Nunca na história, dizem as autoridades butanesas, nenhum monarca benquisto abdicara do trono para entregar o poder ao povo. Mas, em 2006, foi o que fez o rei Jigme Singye Wangchuck, gerando singular convergência de eventos para 2008: uma coroação (o quarto rei entrega a coroa do corvo a seu filho, Jigme Khesar Namgyel Wangchuck, de 28 anos, que será um monarca constitucional), a celebração de um centenário (o 100o aniversário do monarca foi em 2007, mas um astrólogo real declarou o ano seguinte mais auspicioso) e, o mais importante, a formação, em meados do ano, do primeiro governo democrático do país.Assim, o verdadeiro teste da Felicidade Nacional Bruta está apenas a começar. Os novos líderes civis do Butão terão de enfrentar uma avalanche de mudanças. Dentre elas, nada menos que um público ainda enamorado pelos seus reis e céptico quanto à democracia.
O mundo observa e pergunta se esta nação, outrora tão esquecida, poderia ajudar a responder a algumas das mais inquietantes questões da humanidade: como pode uma sociedade manter a sua identidade face ás homogeneizantes forças da globalização? Como adoptar as coisas boas do mundo moderno sem ser vitimado pelas más? E poderá existir algum equilíbrio benéfico entre tradição e desenvolvimento?"
Ler o resto do artigo em : National Geographic "O Iluminado caminho do butão"
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