Remade In Portugal
Decorre até sexta-feira, 5 de Outubro a exposição Remade In Portugal na Estufa Fria, a primeira exposição totalmente dedicada ao Eco Design, realizada no nosso país.
O “Remade in Portugal” é a transposição para o panorama nacional de um projecto italiano denominado “Remade in Italy” que pretende incentivar as empresas a desenvolver produtos utilizando materiais reciclados, que apresentem um desenho original e qualidade de produção.
Em Portugal o desafio foi lançado a 15 designers e arquitectos que aderiram à iniciativa e em Abril de 2007 os objectos criados e produzidos em Portugal estiveram já presentes no “Salone Internazionale del Mobile”de Milão.
Á entrada encontramos alguma informação relativamente aos processos de reciclagem de plástico e cartão e a viagem inicia-se com uma visita a um mundo de materiais reciclados que constam na Matrec, a primeira base de dados de materiais reciclados Italiana.
Começa então o desfile de peças.
A exposição, dividida em três espaços começa com as peças portuguesas.
Destas destacaram-se aos nossos olhos as Attitude, de Alda Tomás e os Mosaicos de Escórias de Manuel Graça Dias e Egas José Vieira.
As Attitude, um conjunto de taças decorativas, destacam-se pela origem dos seus materiais e pela qualidade das peças conseguidas. As peças provêm do reaproveitamento de Lamas de Etars compostas por restos de pasta de porcelanas, gesso e vidrados (50 %) sendo os outros 50 % do peso da peça água.
Os Mosaicos de Escórias surpreenderam também pela qualidade e design actual e moderno. São em tudo semelhantes aos mosaicos vulgares que encontramos em qualquer casa de banho ou cozinha. Se entrássemos numa loja de venda especializada destes artigos dificilmente chegaríamos á origem dos materiais que os compõem: escórias provenientes da incineração de RSU.
A nível de peças internacionais destacaram-se principalmente as peças da Remade In Argentina/Brasil e Chile.
Pela originalidade, design e funcionalidade destacava-se o Orgânica, um lavatório de casa de banho 100% constituído por alumínio e polipropileno reciclado.
No entanto o mais interessante foi verificar que nesta parte da exposição grande parte das peças não era originária de materiais reciclados, mas sim de materiais reutilizados.
Desde a peça Barrel, uma mesa de aço reutilizado, á Pétalo uma cadeira de policarbonato e aço reutilizado, passando por malas, cadeiras e candeeiros, arriscamos afirmar que mais de 90% das peças expostas derivavam de materiais reutilizados e não reciclados.Ao analisarmos a sustentabilidade destes produtos , estes conseguiriam ter uma melhor classificação em relação aos produtos feitos de materiais reciclados.
Cada vez mais esta discussão tem vindo a subir de tom, á constatação de que
alguns processos de reciclagem exigem grandes custos ambientais e económicos, pela necessidade de elevadas quantidades de recursos para a sua produção, sendo por vezes preferível a sua deposição ao invés da reciclagem.Segundo o comissário da REMADE IN Portugal, Roberto Cremascoli, "Em Portugal, as pessoas ainda não estão preparadas para comprar peças em material reciclado, ainda por cima tendencialmente mais caras", nota. Mesmo assim, este italiano acredita que iniciativas como a REMADE IN podem ajudar a sacudir a consciência colectiva.
"Temos mesmo que arranjar maneiras de reaproveitar o desperdício das indústrias. Nestes meses em que andei pelas fábricas verifiquei que há montes de lixo de materiais inutilizados."
A exposição Remade In Portugal é um evento que só pelo seu acontecimento já nos traz benefícios, quer pelo alertar de consciências, quer pela demonstração de que se pode reaproveitar quase tudo aquilo que mandamos para o caixote do lixo.
No entanto em alguns aspectos pode ser enganadora, principalmente pelo facto de incentivar quase em exclusivo a utilização de materiais reciclados (tendência clara nas peças Europeias contrastando com as peças Sul Americanas) e pelo facto de muitas das peças expostas serem produtos de baixa durabilidade e qualidade.
Faltam mais objectos de elevada duração e resistência, materiais naturais, materiais inteligentes, a inspiração na natureza e a qualidade dos produtos. È engraçado ter alguns dos objectos expostos em casa, mas se visualizarmos a nossa casa toda decorada com aquelas peças, não ficaríamos propriamente satisfeitos com a decoração da casa e principalmente com o conforto.
“O reaproveitamento deve ser o ponto de partida de todos os produtos. Tudo deve poder ser desintegrado de tal forma que possa ser a matéria prima, o berço, de um novo produto. Não se trata de reciclar (recycling), mas sim de melhorar (upcycling). De materiais velhos, usados, não são feitos produtos inferiores, mas sim produtos superiores. Este será o novo conceito de sustentabilidade.” Michael Braungart e William McDonough
5 comentários:
Rita, excelente a remodelação do blog :)
Amanhã é a minha vez de ir à REMADE e então logo digo de minha justiça..mas dp deste teu post já vou com algumas luzes!!
A exposição vale bem a viagem!
Pode no entanto, nalguns casos, induzir em erro pessoas interessadas na área, fazendo parecer que ecodesign é apenas a reciclagem, quando no fundo é todo um processo de gestão e planeamento bem mais complexo do que isso.
Bom passeio! ;)
Olá, Rita!
Obrigada por visitar o Eco Trends & Tips.
Ainda que exista certo 'preconceito' contra produtos sustentáveis e o esteriótipo do 'reciclado' seja comum, fico feliz de saber que, do outro lado do oceano existem pessoam compartilhando da mesma preocupação e empenhados em construir um mundo melhor, que consuma com consciência.
Parabéns pela iniciativa.
Abçs da amiga brasileira,
Fui ontem à REMADE! Gostei mas esperava mais, confesso!! Como disseste acho que se limitaram muito ao uso de materiais reciclados! Ainda assim, havia peças muito originais!! E gostei da sala inicial da Matrec!! Vale a pena visitar!!
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