Ezio Manzini é designer, engenheiro, arquitecto e professor. Numa visita ao Brasil, para o 1º. Simpósio Internacional sobre Design Sustentável, deu uma entrevista ao Planeta Sustentável.
Ezio Manzini é director da unidade de pesquisa em Design e Inovação para a Sustentabilidade (DIS), do Instituto Politécnico de Milão. Com diversas publicações sobre o tema, já recebeu duas vezes o prémio "Compasso D'Oro", concedido pela Associação de Design Industrial (ADI) de Itália, e, no ano passado, recebeu, ainda, o título de Doutor Honorário em Belas Artes, pela The New School, de Nova Iorque.
Actualmente, Manzini é responsável pelo Sustainable Everyday Project (SEP), uma plataforma web que reúne informações sobre pesquisas, workshops, projectos e actividades relacionados à promoção do design sustentável na vida quotidiana. Apostando numa mudança radical no sistema de produção e consumo mundial, o designer propõe alternativas que permitam a tão sonhada redução do consumo, num novo cenário onde os produtos são substituídos pelo resultado que eles promovem, "em vez de carros, falemos em mobilidade", sugere. No novo cenário traçado pelo designer, a partilha de bens é a solução para a redução da produção e do consumo de novos artefactos.
1. Quando é que a discussão sobre a sustentabilidade despertou o seu interesse?
No início, nós, designers, pensávamos em redesenhar produtos e adaptá-los sob o ponto de vista ambiental. Embora eles tenham ficado mais eficientes, o consumo aumentou. O relógio que uso é melhor do que o do meu pai. Mas ele usou um relógio a vida inteira, enquanto eu não sei quantos já tive. Nem todos os passos do ecodesign são um passo à frente para a sustentabilidade.
2. Como é que o design pode ajudar a promover o desenvolvimento sustentável?
A noção de design sofreu mudanças. Hoje procura-se unir a tecnologia com a cultura em busca de soluções para que o mundo funcione melhor. Se se quiser tornar a ocupação dos carros mais eficiente, isso é um assunto para o design estratégico. Consideramos o sistema e não apenas o produto.
3. Até que ponto a reciclagem de produtos é eficiente para a sustentabilidade?
Claro que temos de reciclar, mas isso tem permitido equívocos. "Não se preocupe, consuma porque temos condições de recuperar e recriar tudo." Isto é impossível. O meu slogan é: "Para viver melhor, consuma menos".
4. Que outras mudanças pede a sustentabilidade?
Ela depende de transformações radicais nos padrões não sustentáveis. Por exemplo, melhorar a eficiência dos carros custa dinheiro. Cerca de 90% deles leva apenas um passageiro. Se levar dois, o problema diminui pela metade. É simples, mas também complexo, porque não se muda um hábito com facilidade. Trata-se de uma discussão tão importante como falar em hidrogénio como combustível alternativo.
5. A discussão sobre a sustentabilidade está muito atrasada no Brasil?
Não só aqui. Em Itália, onde moro, a mentalidade dominante é a da sociedade de consumo dos anos 60. Como é que se pode mudar o mundo se o seu modelo de referência se tornou tão ultrapassado?
6.Quais os maiores mal-entendidos que se cometem em nome da sustentabilidade?
Algumas pessoas pensam, até com boa vontade, que usar produtos que reduzam o impacto ambiental representa um enorme passo para a sustentabilidade. Quando entendem que a mudança deve ser maior, ter âmbito global, dizem que é radical demais para ser executada imediatamente.
7. E não é verdade?
Isso é mais fácil do que gastar milhões em pesquisas tecnológicas. Por que não ter casas vizinhas com serviços em comum em vez de esperar por uma nova geração de electrodomésticos que controlará tudo e, no fim, reduzirá o consumo de energia em apenas 2%? Não é fácil fazer mudanças sistémicas.
8. Quais são os maiores entraves para a adopção de uma política sustentável?
Algumas vezes, falta vontade. Noutras, faltam incentivos. Vou usar o exemplo do carro: quem circulasse com duas ou mais pessoas teria estacionamento gratuito. Há mais um argumento que ouço: viveríamos uma crise económica, e esse não seria o momento para uma política sustentável. Discordo. É mais fácil mudar na crise do que quando as máquinas estão a pleno vapor.
9. Encontrou bons exemplos de sustentabilidade no Rio de Janeiro?
Sim. A Rede Ecológica (grupos de consumidores que se reúnem para comprar alimentos, geralmente orgânicos, directamente de pequenos produtores rurais, diminuindo o desperdício) é uma ideia simples, que dá certo e pode ser reproduzida em qualquer lugar do mundo.
10. Como se passa de uma experiência dessas para uma inovação em maior escala?
A maior dificuldade é o número limitado de heróis que temos, pois esses projectos são levados adiante por pessoas enérgicas e criativas, dispostas a mudar o mundo. Ainda assim, essas propostas podem amadurecer no futuro. E tudo fica mais fácil quando não se começa do zero.
17/09/07, via Planeta Sustentável
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